quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Low Rider: os carros que pulam e dançamQuem já viu aqueles carrões ('barcas') que literalmente pulam, presentes em videoclipes de rap norte-americanos, não deixa de se impressionar. O Low Rider ("andar baixo"), sistema hidráulico de origem mexicana, já esteve presente em clipes como "Jump", do Kris Kross, além de vários do Dr. Dre e do Ice Cube, só para lembrar alguns nomes de maior destaque. Geralmente, são utilizados antigos modelos de Impala, com pinturas caprichosamente elaboradas - hoje, essas pinturas incorporaram técnicas do grafite. Mas a história do Low Rider teve início na década de 60, época em que florescia a manifestação dos pachucos em Los Angeles (EUA).HistóriaFonte inspiradora do estilo gangsta, Los Angeles é também o berço do hip-hop chicano, representando a influência de povos latino-americanos nos EUA, com destaque para porto-riquenhos, cubanos e mexicanos. Desde os anos 30, as gangues, ou "Street Syndicates", são uma presença constante na paisagem urbana de LA. No livro "Ritmo e Poesia - os caminhos do rap", os portugueses Antônio Concorda Contador e Emanuel Lemos Ferreira definem o "brown hip-hop" como um estilo marcado pelo orgulho chicano, na raça e na sua especificidade cultural, tendo como referência o pachuco.





Nos anos 40, o estilo pachuco tornou-se símbolo último da resistência cultural chicana, de anarquia e de (in)diferença em relação à América branca protestante. Geralmente, são assim identificados os membros das gangues chicanas (embora muitos não o fossem), criando uma nova atmosfera estética à sua volta: do vestuário largo e comprido ? calças, camisas, chapéus-, às longas correntes para o relógio de bolso, passando pelo fato de falarem gíria e de terem o seu próprio estilo musical. Apesar de ser um produto cultural dos anos 40, o pachuco ganha raízes na comunidade chicana e irá marcar profundamente o hip-hop chicano, dando corpo e forma ao estilo gangsta que eclodirá no final dos anos 80.








O Low Riding no Brasil Para efeito histórico, o primeiro carro Low Rider do Brasil foi montado em Mogi das Cruzes, cidade com cerca de 350 mil habitantes situada a pouco mais de 60 km de São Paulo. O autor da façanha foi o nipo-brasileiro Sérgio Yoshinaga, que passou quase nove anos no Japão aprendendo as técnicas e truques do mais respeitado seguidor da arte no país, o criador e presidente do célebre car club "New Mafia".Ao retornar ao Brasil, trazendo na bagagem alguns kits de bombas hidráulicas, Sérgio interessou-se por dar um toque brasileiro à arte chicana que aprendera no Japão: comprou um Galaxie branco, ano 1968, que logo se tornaria o primeiro automóvel Low Rider do Brasil. A transformação se iniciou com a pintura do carro num indescritível tom de roxo (uma das características dos Low Riders são as cores inéditas, extravagantes), permanecendo apenas o teto do Galaxie na cor branca. Com o direito de trazer ao Brasil o nome New Mafia, Sérgio internacionalizou o mais respeitado car club japonês, criando o primeiro car club brasileiro, com o mesmo nome.Mogi das Cruzes ficou pequena para a curiosidade: pela primeira vez, no Brasil, um carro atrevia-se a pular e dançar - sempre ao som de muito rap, é claro. Poucos meses após transformar um velho Galaxie no primeiro Low Rider brasileiro, Sérgio apresentou-se em programas televisivos, como o "Domingo Legal" (em que permaneceu vários minutos no ar) e "Ratinho Livre" (então na Rede Record), entre outros. No final de 1998, este mesmo Galaxie recepcionou o rapper norte-americano Shabbazz, do grupo Gravediggaz, quando o mesmo veio ao Brasil excursionar com Marcelo D2. Só não foi possível continuar promovendo este carro por problemas pessoais.Após esse primeiro impulso, Sérgio ajudou o empresário Tatá, de São Paulo, a montar seus dois primeiros Low Riders, dois Impalas: um verde e outro dourado (ambos estampam encartes de alguns CDs, dos grupos RPW, Verbo Pesado e Estado Crítico, entre outros). Com a volta de Sérgio ao Japão em 1998, onde foi aprender mais técnicas do Low Riding, Tatá tornou-se forte referência para a arte chicana no Brasil, montando mais carros que pulam e dando origem a novos car clubs, incluindo o Vida Lôca (de Mano Brown) e o Vida Real, entre outros.




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